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Blogue para aqueles que têm raízes nesta freguesia do concelho de Idanha-a-Nova e não tiram do pensamento a aldeia que os viu nascer. Pretende-se divulgar a história e cultura da Aldeia e dar a conhecer o que por aqui acontece!
Em sua casa havia sempre, mas sempre, um saco de rebuçados, umas tabletes de chocolate ou uns pacotes de amêndoas. É daquelas recordações, de infância, que me vêem logo à memória. Aquele "cheirinho" a França, misturado com o calor abafado dos meses de Agosto na Beira Baixa.
Em sua casa havia sempre, também, um sorriso lindo, uns braços abertos e um regaço acolhedor. Havia sempre pão na mesa, chouriço e queijo para acompanhar. A mesa estava cheia de gente? Havia sempre lugar para mais um se chegasse fora de horas.
Em sua casa também se ouvia um "deixa lá o rapaz", quando ameaçava já no ar uma palmada após uma qualquer travessura. Havia um "não aborreças a menina" quando eu implicava com a minha irmã, então a princesinha da família.
Aldeia era sinónimo de férias com os avós, mesmo que só muito tarde tivesse coragem de ir "mais cedo" para a Aldeia. Mais cedo como quem diz sem os pais.
Aldeia era sinónimo de correr de manhã à noite, atrás da bola, dos amigos, das corridas pelas ruas, das jogatanas no campo da bola, das patifarias feitas às escondidas, da certeza de um regresso a casa com a comida a fumegar na mesa à hora do almoço e do jantar.
Aldeia era sinónimo de passeio no tractor do avô com ela ao meu lado, de ida ao "chão" para tratar dos campos, regar, semear, apanhar laranjas, tomate, melancias.
Aldeia era sinónimo de me sentar nas pedras e poder ouvir o som dos pássaros misturado, por vezes, com o seu cantar. Ou de, à noite, sentado à porta de casa, ouvir todo um desfiar de memórias de tempos difíceis, mas aparentemente sempre tão divertidos. Das histórias dos filhos, dos vizinhos em França, das peripécias nas viagens, das história de vida carregadas de tanta sabedoria.
Recordo-me daquele ano em que, já de regresso à aldeia, foi preciso o avô ir à França e eu fui, durante uma semana o "homem" da casa, aquele que ia ajudá-la na rega do campo, no dia a dia, lhe fazia companhia.
Recordo-me da sua pronúncia beirã carregada, do seu cheiro bom, o suave das suas mãos calejadas pela vida. Recordo-me do seu "cã negro", disparado quando me portava mal, mesmo que esse zangar mais não fosse do que uma chamada de atenção. Do quão bom era passar um mês inteiro sob a sua protecção suprema, a coberto de (quase) todos os castigos pelas asneiras feitas. E das filhoses no Natal, dos bolos de leite, do arroz doce.
E recordo-me..... do choque sofrido há 17 anos, neste preciso dia. Da surpresa, seguida de rápida compreensão, de uma chegada a casa depois da escola e de ver à porta de minha casa gente que não era suposto lá estar, olhos marejados, vermelhos de dor.
Recordo-me da incompreensão de ver partir alguém cedo de mais, com tanto ainda por viver, tanto ainda por cantar na Senhora da Granja, nas missas da aldeia.
Recordo tudo isto e hoje, logo pela manhã, senti uma saudade imensa de te ouvir cantar. De te poder ainda ter cá para poderes ver crescer a minha filha. De poderes ainda estar cá para poderes conversar com a tua filha.
Onde estiveres, sei que estás a olhar pelos teus. A providenciar pelos teus.
Um beijo grande avó Rosa.